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Experiência no PIBID resulta em comunicação oral no COLITERAS

METÁFORA: A ESCOLA É UM CAMPO DE BATALHA

Silvana Tobias OLIVEIRA (UEMS - Dourados) [1]

Prof. Dr. Adilson CREPALDE (UEMS - Dourados) [2]

RESUMO: Este trabalho objetiva refletir sobre a metáfora: A escola é um campo de batalha. Para tanto, apoiou-se nas discussões teóricas feitas por Pierre Bourdieu (1970, 1997), César Aparecido Nunes (2015, 2016), Michel Foucault (1977), Mafessoli (1996), Lakoff e Johnson (2003) e Ricardo Lima (2009). As referidas teorias são aplicadas para pensar as relações sociais no âmbito das escolas observadas durante a realização de projetos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) e do Estágio Curricular Supervisionado. As anotações das observações são os dados a serem analisados que foram coletados por meio do método etnográfico, mais especificamente por pesquisa participativa e semiestruturada. Os resultados apontam que a relação entre a escola e campo de batalha que a metáfora encerra é pertinente, e a análise dos dados demonstra as nuances da violência dessa disputa nas quais todos os atores sociais exercem seu poder dentro de uma estrutura escolar que dá sinais claros de suas contradições.

PALAVRAS-CHAVE: Escola. Experiência. Metáfora. Violência.

INTRODUÇÃO

Este trabalho consiste em uma reflexão sobre a metáfora “A escola é um campo de batalha” com base na experiência que tivemos com o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), no ensino médio, e também no Estágio Curricular Supervisionado, no ensino Fundamental. Essa experiência possibilitou-nos presenciar momentos conflituosos entre os sujeitos sociais que compõem o espaço escolar. Este trabalho reflete sobre a pertinência da referida metáfora enquanto representação da violência no espaço escolar. As reflexões que realizamos culminaram neste trabalho que está organizado em três partes. Na primeira parte, relatamos a experiência de como entramos em contato com a escola e iniciamos a observação crítica. Na segunda parte, analisamos as observações com base em teorias que julgamos adequadas para pensar o assunto. Na última parte, fazemos as considerações finais, retomando a realização do trabalho e refletindo sobre a aplicabilidade da escolha teórica para compreender o objeto de análise.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A metáfora que relaciona escola e campo de batalha é encontrada nas reflexões de Lima (2009). E foram essas reflexões que desencadearam nosso desejo de compreender essa relação, tomando como objeto de estudo as relações sociais em duas escolas públicas de Dourados. Nessas escolas, julgamos que as relações entre os sujeitos desses espaços eram conflituosas e violentas. Para pensarmos a violência na escola, nos apoiamos nas reflexões do próprio autor. Valemo-nos também das reflexões de Nunes (2016), que dá ênfase ao aspecto histórico das relações entre professores e alunos. Fazemos uso também das ponderações de Bourdieu e Passeron (1970), sobretudo, dos conceitos de campo e violência simbólica. Buscamos em Foucault (1977) a compreensão do exercício do poder e das aprendizagens que emergem dos atos de vigiar e punir. As noções de subgrupo e pertencimento elaboradas por Mafessoli (1996) foram usadas para compreender a heterogeneidade das formas de construir sentido. Por fim, apoiamo-nos no conceito de metáfora, no sentido que Lakoff e Johnson (1998) dão ao termo – metáfora como um modelo cognitivo e não apenas como uma figura de linguagem. As ponderações destes autores permitem por em discussão a relação entre os domínios “escola”e “campo de batalha” e compreender as possíveis relações semânticas entre esses dois domínios.

METODOLOGIA

Além da pesquisa bibliográfica realizada com base nas referências teóricas da disciplina de Estágio Supervisionado e nas referências propostas nos encontros do PIBID, realizamos observações críticas em duas escolas públicas de Dourados. As observações do ambiente escolar foram apoiadas nas discussões de Sousa (2000). Essa autora propõe uma leitura do ambiente escolar como um texto composto por signos linguísticos e não linguísticos. A mesma autora assevera que não devemos perder de vista as determinações sociais e econômicas que permeiam o mundo escolar. Dessa maneira, exercitamos nosso olhar etnográfico à medida que fazíamos parte do mundo escolar, refletindo inclusive sobre o impacto de nossa presença. Dessa observação crítica foram levantados dados sobre os quais passamos a fazer nossas reflexões que culminaram neste trabalho.

RESULTADOS

As reflexões sobre o objeto de estudo apontam que a relação entre os domínios “escola” e “campo de batalha” que a metáfora encerra é pertinente. Embora a violência física, a morte, os ferimentos e outras imagens que evoca a expressão “campo de batalha” não se apliquem ao mundo escolar, em ambos os domínios a violência - ainda que no segundo caso seja psicológica e simbólica – e as estratégias de como praticá-la permitem uma relação ilustrativa. Ao estudarmos o mapeamento entre as propriedades dos dois domínios pudemos compreender os efeitos de sentido que a metáfora produz bem como as nuances da violência entre os atores sociais dos contextos escolares estudados. As reflexões permitem dizer que a metáfora também remete para a dificuldade da realização de diálogos no âmbito escolar. Diálogo no sentido de construção de entendimentos, de relações entre modos diferentes de ver a realidade. Pudemos identificar como a violência se manifesta por meio de palavras, gestos, posições sociais e até mesmo por meio de silêncios. Pudemos reconhecer estratégias que professores, dirigentes e alunos utilizam para exercerem seus poderes dentro de uma estrutura escolar que dá sinais claros de suas contradições. Conseguimos identificar também que as contradições sociais são trazidas para dentro da escola, acirrando ainda mais o cenário de batalha. Embora o estudo do objeto fosse a violência, observamos também atitudes solidárias no ambiente escolar, contudo não coube no escopo desse trabalho refletir sobre essa atitude, nem tentar compreender seu significado nas relações metafóricas, ficando para um próximo trabalho ampliar essa discussão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entendemos que o método de observação foi adequado e permitiu-nos captar dados significativos. Concluímos que aprender a praticar o olhar etnográfico é de fundamental importância para o processo de formação da docência, pois possibilita que o futuro professor busque compreender as nuances do complexo contexto escolar. O método etnográfico também nos permitiu pensar sobre a necessidade de se criticar conceitos e métodos que comumente se aplicam sem considerar a diversidade que permeia o mundo escolar. Entendemos também que as discussões teóricas que embasaram o estudo do objeto foram bem escolhidas, possibilitando a compreensão do objeto. Tais discussões possibilitaram refletir de maneira crítica e criteriosa a relação entre os domínios “escola” e “campo de batalha”. Foi possível, dessa maneira, identificar os lados que disputam espaços e interesses e como ambos exercem o poder e se utilizam de estratégias para alcançar os próprios objetivos. Diante desse posicionamento, observamos que tanto os alunos quanto os professores reproduziam discursos e práticas do grupo social ao qual pertenciam. Observamos também que esses grupos vão reconfigurando-se à medida que os interesses mudam, e essa dinâmica nos remeteu ao aforismo de Hobbes: “a guerra de todos contra todos”, cuja pertinência não cabe discutir no escopo deste trabalho. Outro fato que nos chamou a atenção e não conseguimos analisar, ficando uma lacuna neste trabalho, foi a solidariedade que perpassa os atos de violência. Entendemos que relacionar essa propriedade aos dois domínios aumentaria a compreensão da metáfora e do objeto de estudo. Por fim, o estudo nos possibilitou falar sobre a metáfora e sobre a violência, mas nos levou a pensar sobre a necessidade de estudar os entraves na realização do diálogo, enquanto método de ensino e compreensão da realidade contraditória existente na escola e na sociedade como um todo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1970.

FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. SP. Martins Fontes, 1999.

___________Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1977.

HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Marlins Fontes, 2003.

LAKOFF, George; JOHNSON, Mark. Metaphors we live by. London: The university of Chicago press, 2003.

LIMA, Ricardo Correia de. A Educação Como Campo de Batalha e Local de Seleção / Ricardo Correia de Lima. Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Educação da Baixada Fluminense. – 2009. Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp118513.pdf. Acesso em: 27 de novembro de 2016.

MAFESSOLI, Michel. No fundo das aparências. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

NUNES, César Aparecido. Trabalho no Contexto da Formação docente: novas faces da educação superior no Brasil. In: I Encontro das Licenciaturas da UEMS. Dourados, 29 de setembro de 2016.

SOUSA, Jesus Maria. O Olhar Etnográfico da Escola perante a diversidade Cultural. Revista de Psicologia Social e Institucional, 2, 1 (107-120). Universidade da Madeira, 2000.

[1] Sil_oliveira94@hotmailcom/ UEMS-Unidade de Dourados

[2] Crepalde@uems.br/ UEMS-Unidade de Dourados


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